Empresa anuncia boicote a fornecedores de couro que desmatam a terra dos indígenas isolados Ayoreo no Paraguai

21 dezembro 2023

Guireja, uma mulher Ayoreo, no dia em que foi contatada em 2004. Seus familiares permanecem vivendo isolados na floresta. © GAT/ Survival

A empresa Pasubio, uma das principais fabricantes de couro da Europa, anunciou que se recusará a comprar couro de fornecedores cujas atividades ameacem direta ou indiretamente as florestas de indígenas isolados do povo Ayoreo, no Chaco paraguaio.

A decisão da Pasubio ocorreu após intenso diálogo com a Survival Italia (escritório italiano da organização de direitos indígenas Survival International) que, com o apoio dos advogados Veronica Dini e Luca Saltalamacchia, apresentou uma queixa formal contra a empresa no Ponto Nacional de Contato (PNC) da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Esses Ayoreo são o último povo indígena isolado da América do Sul que vive fora da Amazônia. Eles estão ameaçados por fazendas que ocupam e desmatam ilegalmente suas terras ancestrais.

Em seu anúncio, a Pasubio disse: “[Nossa empresa] anuncia hoje seu compromisso de defender o território ancestral do povo indígena Ayoreo-Totobiegosode”.

“Graças ao papel de conscientização desempenhado ao longo dos anos pela Survival International, o movimento global pelos direitos dos povos indígenas, e pela ONG Earthsight, o Grupo Pasubio tomou conhecimento da ameaça ao povo Ayoreo Totobiegosode da região do Gran Chaco, no Paraguai, especialmente os grupos Ayoreo isolados que vivem na floresta.”

“O Grupo Pasubio anuncia, portanto, sua decisão de não comprar couro de fornecedores que possuam qualquer ligação com o desmatamento do [território Ayoreo]; a partir de hoje, o Grupo Pasubio suspenderá todas as relações comerciais com qualquer fornecedor paraguaio que não possa fornecer as devidas garantias quanto à ausência de qualquer relação, direta ou indireta, com as fazendas de gado localizadas [no território Ayoreo]”.

O território Ayoreo é hoje uma ilha de floresta cercada por um mar de destruição, pois as terras ao seu redor (e algumas dentro dele) foram desmatadas para a criação de gado. Desde o início deste ano, inúmeros incêndios provocados por fazendeiros consumiram uma parte significativa da floresta dos Ayoreo.

Um número desconhecido de indígenas Ayoreo vive isolado na floresta. Por décadas, muitos indígenas foram forçados a sair da floresta e agora vivem em aldeias.

Caroline Pearce, diretora da Survival International, disse hoje: “Estamos muito satisfeitos que a Pasubio tenha se comprometido a boicotar o couro de fornecedores que ameaçam as vidas e as terras dos Ayoreo no Paraguai, e esperamos que outras empresas façam o mesmo. Estaremos, evidentemente, atentos para garantir que o compromisso seja integralmente implementado.”

“Os poderosos por trás da indústria do couro no Paraguai precisam saber que o mundo não tolerará a destruição da floresta e de um povo em nome do lucro. Esperamos que esta notícia sirva para acelerar o processo terrivelmente lento de reconhecimento dos direitos à terra dos Ayoreo, que já dura trinta anos. As autoridades do Paraguai deveriam finalmente respeitar o direito nacional e internacional: expulsar todos os pecuaristas de dentro do território e devolvê-lo aos Ayoreo.”

Nota aos editores:

A Itália é o maior comprador mundial de couro paraguaio e a Pasubio é o principal importador italiano (dados de 2022). O couro da Pasubio é utilizado principalmente na indústria automotiva. BMW, Jaguar Land Rover, Porsche e muitos outros compram esse material para utilizar no interior dos carros, como em bancos e volantes.

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