Vivendo nas profundezas da Amazônia peruana, acredita-se que os Mashco Piro sejam o maior grupo de indígenas isolados do mundo, com aproximadamente 750 indivíduos.
Em julho de 2024, a Survival divulgou imagens de um grande grupo de indígenas Mashco Piro que apareceram na beira de um rio em seu território. A terra onde vivem esses indígenas isolados está sob intensa pressão de madeireiras.
Tendo sobrevivido a um traumático passado de massacres e trabalho escravo, eles têm deixado clara a sua determinação de defender seu território.
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Em 2002, em resposta ao lobby da organização indígena FENAMAD (Federação Nativa do Rio de Madre de Dios e Afluentes), o governo criou a Terra Indígena Madre de Dios para proteger o território dos Mashco Piro. A floresta exuberante e cheia de vida se estende por diversas bacias hidrográficas próximas à fronteira com o Brasil.
Mas a terra indígena foi delimitada para ocupar apenas um terço da área proposta pela FENAMAD. Grandes áreas do território Mashco Piro ficaram fora dos limites da terra indígena e, portanto, ficaram desprotegidas. Para piorar a situação, o governo vendeu grande parte desta área para concessões madeireiras, dando a empresas o direito de, por décadas, extrair mogno e outras madeiras nobres no local.
Uma das maiores concessões é operada por uma empresa madeireira chamada Canales Tahuamanu SAC. Suas operações são certificadas como sustentáveis e éticas pela FSC (Forest Stewardship Council), em clara violação as suas próprias regulamentações contra a extração de madeira em territórios indígenas.
Na área onde a Canales Tahuamanu opera, a perda de grandes partes de floresta está expulsando os Mashco Piro da sua terra. Nos últimos anos, eles têm aparecido nas margens de rios próximos a comunidades de indígenas Yine, um povo contatado. Às vezes eles pegam bananas e mandiocas nas hortas dos Yine, ou pedem facões e panelas.
A língua Yine é parecida com a dos Mashco Piro, e quando eles aparecem em busca de comida e outros itens, os dois grupos conseguem se comunicar.
O povo Yine costuma ouvir indígenas Mashco Piro se aproximando: eles assobiam antes de saírem da floresta, imitando o canto alto e fino de um pássaro, como um aviso para outros ficarem longe enquanto eles coletam ovos de tartaruga, frutas e vegetais.
Mesmo tendo um ancestral em comum, o contato entre os Yine e os Mashco Piro é perigoso para ambos os lados. Os Mashco Piro isolados não têm imunidade contra doenças comuns e, por isso, o simples contato poderia dar início a uma epidemia mortal entre eles. Ocasionalmente, os Mashco Piro também atacam outras comunidades próximas, por razões ainda desconhecidas, mas acredita-se que estão relacionadas à contínua invasão do seu território.
Muitos indígenas Yine defendem os Mashco Piro. Por exemplo, eles plantam uma roça extra – um “chacra” – nos limites da sua aldeia, onde os indígenas isolados podem se alimentar e depois voltar para a floresta.
Os madeireiros que trabalham para a Canales Tahuamanu, além de estarem adentrando a floresta dos Mashco Piro, também construíram cerca de 200 quilômetros de estradas na área. Estradas são historicamente desastrosas: dão acesso a áreas mais remotas da Amazônia e abrem caminho fácil para a ocupação e a colonização de uma região de floresta anteriormente inacessível.
Por medo de serem impedidos de trabalhar na área, os madeireiros não relatam avistarem os Mashco Piro. Um homem Mashco Piro disse a um indígena Yine: “Os homens vestidos de laranja são pessoas más.” Os madeireiros usam macacões laranja.
A Canales Tahuamanu tem frequentemente usado o sistema judiciário para defender suas atividades madeireiras. Em um desses processos, eles até entraram com uma ação judicial para impedir que os Yine entrassem na floresta que partilham com os Mashco Piro – alegando que, por ser protegida, os Yine estavam invadindo o território.
Depois que a FENAMAD fez uma declaração criticando a empresa por desmatar terras indígenas durante a pandemia de COVID-19, a empresa os processou. A Canales Tahuamanu ganhou o processo e a FENAMAD foi forçada a publicar uma carta endossando as ações e políticas da empresa – silenciando uma forte voz indígena na região.
Observando o comportamento agressivo da empresa, Cali Tzay, Relator Especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas expressou preocupação com o bem-estar dos Mashco Piro e com os efeitos da ação judicial contra a FENAMAD. Ele disse: “Ataques e difamações contra defensores de direitos humanos e ambientais e líderes indígenas procuram deslegitimar e criar mal-entendidos sobre o trabalho que fazem”.
Organizações indígenas do Peru fizeram uma longa campanha para que as autoridades ampliassem a terra dos Mashco Piro. Em 2016, todos os departamentos governamentais relevantes aprovaram a expansão, e o processo seguiu para a fase final, o decreto presidencial (Decreto Supremo em espanhol).
Mas o decreto ainda não foi assinado, e a extração de madeira continua. Enormes quantidades de madeira extraídas do território Mashco Piro continuam a ter o selo de aprovação da FSC - o que a Canales Tahuamanu utiliza para conferir legitimidade as suas atividades.
Aja agora para apoiar os Mashco Piro na defesa de seu território
A Survival tem trabalhado com as organizações indígenas locais FENAMAD e AIDESEP para garantir que as terras dos Mashco Piro sejam devidamente protegidas. Estamos pressionando o governo peruano a expandir a Terra Indígena Madre de Dios para incluir todo o território que pertence aos Mashco Piro, e a revogar as concessões para a extração de madeira na região. Também estamos pressionando a FSC para retirar a certificação da Canales Tahuamanu. Aja agora para apoiar a campanha.
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