Dia do Tigre: Chamados por uma conservação que respeita tigres e indígenas
29 julho 2016
Esta página foi criada em 2016 e talvez contenha linguagem obsoleta.
Hoje, no Dia Internacional do Tigre (29 de julho), a Survival International está pedindo um modelo de conservação de tigres que respeita os povos indígenas como os melhores conservacionistas e guardiões do mundo natural, ao invés de os criminalizar e submeter à violência.
Na semana passada, um menino indígena de 7 anos chamado Akash Orang foi baleado e gravemente ferido no Parque Nacional de Kaziranga, na Índia, onde guardas são incentivados a atirar à primeira vista contra suspeitos de invadir o parque, em nome da proteção de rinocerontes e tigres.
Sessenta e duas pessoas foram baleadas no parque em apenas nove anos sob essa política controversa de “atirar à primeira vista” e indígenas estão enfrentando prisão e espancamento, tortura e até mesmo morte, enquanto o turismo é encorajado.
O World Wildlife Fund (WWF) promove tours comerciais no parque e fornece treinamento e equipamento para autoridades estatais que operam no parque. A Survival International escreveu ao diretor do WWF pedindo que ele condene essa política.
Um ativista local disse à Survival: “Os direitos dos Adivasi [indígenas] como cidadãos estão sendo desgastados com esse medo constante de morte iminente… Ao invés de isolar essas pessoas, eles deveriam cuidar do parque nacional, mas a política do governo os empobreceu e alienou. Eles não têm meios de subsistência e estão vivendo em uma prisão perpétua.”
Em uma entrevista, o ex-diretor do parque Bishan Singh Bonal descreveu a situação do parque como uma “guerra aberta.” Guardas são incentivados a executar suspeitos de caça furtiva à primeira vista, de acordo com um relatório de 2014, contendo slogans como “nunca permita nenhuma entrada não autorizada (mate os indesejados).”
Akash Orang ainda está no hospital e passou por cirurgias após ter sido baleado nas pernas por um guarda.
Quatro guardas florestais em Kaziranga foram recentemente presos por envolvimento no comércio ilegal de vida selvagem. Casos como esse indicam que alvejar caçadores indígenas desvia atenção dos verdadeiros caçadores furtivos – criminosos que conspiram com funcionários corruptos. Alvejar caçadores indígenas prejudica a conservação.
Porém, na reserva de tigres BRT no sul da Índia, indígenas Soliga ganharam o direito de viver em suas terras ancestrais, das quais eles têm cuidado e dependido há gerações. Os Soliga reverenciam profundamente os tigres, e o número de tigres na reserva aumentou significamente acima da média nacional na Índia enquanto vivendo próximos aos povos indígenas. Lá, os guardas não são armados e não existe uma política de atirar à primeira vista.
Madegowda C, um homem Soliga disse: “O diretor do parque Kaziranga está violando os direitos humanos e constitucionais dos povos indígenas… A conservação da floresta não é possível sem as comunidades indígenas e locais. A maioria dos oficiais florestais não entendem a relação entre a floresta e os povos indígenas, eles precisam entender as culturas indígenas e nossos modos de vida na floresta. Os povos indígenas são os nativos desse país e eles são seres humanos.”
A BRT foi recentemente elogiada em um filme para a campanha “Salve nossos Tigres” da emissora de TV indiana NDTV por ter transformado a lógica de conservação, e também foi divulgada em um artigo da BBC Earth.
Evidências demonstram que os povos indígenas cuidam de seu meio ambiente melhor do que ninguém. Eles são os melhores conservacionistas e guardiões do mundo natural. Apesar disso, grandes organizações de conservação continuam a apoiar um modelo de conservação que persegue povos indígenas. Eles continuam a apoiar políticas que têm consequências devastadoras para aqueles vivendo dentro e ao redor de reservas.
Stephen Corry da Survival disse: “Alguns conservacionistas estão afirmando que esse tiroteio terrível é um “acidente” isolado. Não é. É um problema sistêmico – o resultado direto da conservação militarizada. É quase inevitável que assassinatos extrajudiciais aconteçam quando você incentiva ativamente guardas a atirar contra “caçadores furtivos.” As grandes organizações de conservação deveriam condenar fortemente a brutalidade do departamento florestal que elas financiam e apoiam. Independentemente de os conservacionistas se importarem com os direitos dos povos indígenas, eles deveriam perceber que abusar das pessoas locais os torna inimigos da conservação e garante que as áreas protegidas falharão. Práticas atuais irão resultar no fim dos tigres."