Survival publica carta aberta ao presidente da França durante sua visita ao Brasil

A Survival International publicou hoje (27) uma carta aberta ao Presidente da França, Emmanuel Macron, que se encontrou com Davi Kopenawa Yanomami, Raoni Metuktire e outros líderes indígenas em Belém (PA) na noite passada.

O documento aponta a necessidade de que o envio de recursos do governo francês ao Brasil e acordos de cooperação entre os países estejam condicionados à defesa, por parte do governo brasileiro, dos direitos dos Yanomami e de outros povos indígenas, e denuncia o apoio financeiro do governo francês a projetos que ocasionam graves abusos de direitos indígenas em países da África e da Ásia.

Em sua visita ao Brasil, Macron tratou de questões ambientais, e a reunião com Davi Kopenawa pode levar a compromissos concretos da França em apoiar a luta dos Yanomami contra o garimpo e pela proteção de suas terras.

O apoio à proteção da Amazônia e às terras indígenas deve focar no combate ao garimpo ilegal e à extração ilegal de madeira. No território Yanomami, tanto no lado brasileiro quanto venezuelano, a presença de milhares de garimpeiros ilegais gera violência contra indígenas, além de destruir a floresta, contaminar rios e o solo com mercúrio e espalhar doenças, como a malária.

No momento, é impossível ter certeza de que o ouro importado pela França não provém de atividades ilegais em territórios indígenas e, portanto, não contribui para as crises humanitárias que atingem povos indígenas no Brasil. O presidente Macron deve garantir que a França possa rastrear adequadamente o ouro brasileiro que chega ao país, como pediu Davi Kopenawa:

“O garimpo só consegue ser tão forte porque os grandes empresários conseguem vender o ouro para o Brasil e contrabandear para o exterior. Precisamos que os países europeus parem de comprar o ouro do Brasil, porque ainda é impossível saber se este ouro é de origem legal ou se ele é arrancado da nossa terra provocando a morte da minha gente. Pedimos que converse com o presidente Lula para que encontrem soluções para garantir uma boa traçabilidade do ouro brasileiro.”

Raoni também mostrou sua preocupação com o avanço do garimpo na Amazônia: “Eu nunca concordei com extração de madeira, extração de minério e ouro. Eu fico preocupado que o homem branco continua fazendo esse tipo de atividade. A gente está sentindo a mudança do clima, estamos sentindo calor. E eu fico preocupado que, se esse trabalho de destruir continuar, podemos ter problemas sérios para todos nós no mundo.”

Na carta, a Survival também frisa que Emmanuel Macron deve também garantir que a França pare de financiar violações dos direitos dos povos indígenas em países da África e Ásia.

Na Bacia do Congo, na Índia e no Quênia, “Áreas Protegidas” são financiadas pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) em nome da proteção da biodiversidade, mas a criação dessas áreas levou à expulsão de povos indígenas de seus territórios e à perda dos seus meios de subsistência. Os indígenas despejados também sofrem violência por parte de guardas florestais, incluindo homicídio e tortura.

Na Indonésia, o povo indígena isolado Hongana Manyawa corre o risco de ser aniquilado pelas operações de mineração da empresa francesa Eramet, do qual o governo francês possui 27%. O fim da exploração de níquel nas terras dos Hongana Manyawa é vital para a sua sobrevivência.

Fiore Longo, diretora da Survival International França, disse: "O encontro entre o presidente Macron e Davi Yanomami não deve se limitar a um ato puramente simbólico: esperamos apoio concreto da França para a luta dos Yanomami contra o garimpo ilegal. Mas também esperamos coerência entre as palavras e ações do presidente em relação aos povos indígenas fora do Brasil. O dinheiro dos contribuintes franceses deve parar de financiar diretamente violações dos direitos de povos indígenas em todo o mundo.”