Renomado indigenista morto por indígenas isolados cujas terras estão invadidas

10 setembro 2020

© Rieli Franciscato

Esta página foi criada em 2020 e talvez contenha linguagem obsoleta.

Um dos mais renomados indigenistas do Brasil, que trabalhou incansavelmente para proteger as terras dos povos indígenas isolados, foi morto por indígenas isolados cujas terras estão sendo invadidas e destruídas.

Rieli Franciscato era o coordenador de uma equipe da FUNAI que protege terras indígenas com a presença de povos indígenas isolados em Rondônia. Ele havia sido chamado na fronteira da Terra Indígena Uru Eu Wau Wau após indígenas isolados aparecerem fora de sua floresta ontem (9). Indígenas isolados haviam aparecido na mesma região em junho.

Grande parte da floresta em torno da terra indígena foi destruída por fazendeiros e madeireiros que estão também invadindo a terra indígena. Em 2019, diversos incêndios foram iniciados dentro e fora da reserva, e este ano os fazendeiros ameaçaram queimar o território ainda mais.

© USGS / NASA Landsat, produced by Earthrise.

Os dois acontecimentos – a flechada em Rieli e o surgimento do grupo de indígenas isolados tão próximo aos sítios e fazendas – são quase certamente uma resposta à imensa pressão que os isolados e a sua floresta estão vivendo.

Em vídeo recente, Rieli disse: “O Brasil que quero para o futuro é que isso aqui [terra indígena] continue sendo preservada.”

O líder indígena Beto Marubo lamentou a morte em seu Twitter: “Eu perdi um grande amigo e companheiro de mato. A morte do sertanista Rieli Franciscato, atingido por flecha em Rondônia, não poderia ocorrer em momento mais difícil para todos nós. Os isolados perderam uma das últimas garantias de sua existência. Ele foi um professor”.

Indigenistas que trabalharam junto de Rieli por anos descreveram o episódio como: “É uma perda incalculável” e “Não consigo mensurar a perda para o mundo indigenista e, menos ainda, para os índios da TI Uru Eu Wau Wau”.

Sydney Possuelo, ex-presidente da FUNAI, disse à Amazônia Real: “A culpa da sua morte é o descaso e a incompetência da Funai e dos que hoje orbitam em volta desse presidente da Funai e do Coordenador de Índios Isolados”.

© Reproduction/Twitter

Sarah Shenker, ativista da Survival, disse hoje: “A morte de Rieli é trágica e uma imensurável perda para os povos indígenas isolados, para a floresta, e para a luta contra o genocídio indígena no Brasil".

“Por décadas ele se recusou a aceitar a violenta ganância que está destruindo a Amazônia e seus melhores guardiões. Ele trabalhou incansavelmente para proteger de invasores as terras dos povos indígenas isolados. Ele dedicou a sua vida a isso, na linha de frente para combater invasões ilegais por madeireiros, fazendeiros e garimpeiros que ameaçam dizimar os povos mais vulneráveis do planeta. Ele não deixou a guerra de Bolsonaro contra os povos indígenas e os cortes no orçamento da FUNAI o pararem”.

“Os indígenas isolados podem ter achado que Rieli, um de seus maiores aliados, era um de seus muitos inimigos que ameaçam a sua sobrevivência. Os indígenas isolados estão sendo cada vez mais cercados e há apenas uma solução: proteger o seu território de invasões para que eles possam sobreviver e prosperar. A última coisa que Rieli gostaria é que o governo e os invasores usassem a sua morte como uma desculpa para atacar a Terra Indígena Uru Eu Wau Wau de forma ainda mais agressiva, ou para forçar o contato com os indígenas isolados. Isso seria fatal, e qualquer tentativa do tipo receberá imediata oposição dos povos indígenas e de seus aliados pelo mundo”.

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