#ForaGarimpoForaCovid: lideranças do povo Yanomami lançam campanha global
2 junho 2020
Esta página foi criada em 2020 e talvez contenha linguagem obsoleta.
Lideranças do povo Yanomami lançaram uma campanha global para pressionar o governo a expulsar 20.000 garimpeiros ilegais de sua terra durante a pandemia do coronavírus.
O Covid-19 já provocou a morte de três Yanomami e contaminou outras dezenas. Há temores de que a doença possa aniquilar milhares de indígenas Yanomami e atingir várias comunidades Ye’kwana que também vivem no território.
Uma nova pesquisa divulgada como parte da campanha relevou que milhares de indígenas Yanomami que vivem perto das zonas de mineração ilegal poderiam ser infectados. A pesquisa também revela que a Terra Indígena Yanomami é o território indígena mais vulnerável ao novo coronavírus de toda a Amazônia brasileira. Um dos motivos é o sistema de saúde que atende o território. Os polos base de saúde que atendem os Yanomami possuem a menor disponibilidade de leitos e respiradores e as maiores limitações relacionadas ao transporte de doentes para outras regiões com mais infraestrutura de saúde.
Dario Yanomami da Hutukara Associação Yanomami disse: “Estamos acompanhando a doença Covid-19 na nossa terra e muito tristes com as primeiras mortes dos Yanomami. Nossos xamãs estão trabalhando sem parar contra a xawara [epidemia]. Vamos lutar e resistir. Para isso, precisamos do apoio do povo brasileiro e do mundo inteiro.”
A campanha #ForaGarimpoForaCovid é liderada por várias associações Yanomami e Ye’kwana e tem o suporte de várias organizações do Brasil e do mundo.
A expectativa é de que 100.000 pessoas assinem a petição que pede ao governo brasileiro a expulsão dos garimpeiros ilegais da terra Yanomami – o maior território indígena do Brasil. Desde os anos 80 o território é alvo da mineração ilegal de ouro. As epidemias de malária introduzidas pelos garimpeiros nessa época mataram 20% da população Yanomami no Brasil e também causaram muitas mortes entre os Yanomami na Venezuela.
Os garimpeiros ilegais estão operando perto de uma das várias comunidades de indígenas isolados Yanomami, chamados Moxihatatea. Os indígenas isolados correm o risco de serem exterminados por doenças às quais não têm imunidade. Davi Kopenawa, um líder Yanomami conhecido como “o Dalai Lama da Floresta”, alertou recentemente a ONU que os Yanomami isolados podem em breve ser exterminados se nada for feito para proteger seu território.
Já encorajados pela posição pró-mineração do presidente Bolsonaro, os garimpeiros ilegais parecem estar se aproveitando do caos causado pelo coronavírus. Em março de 2020 houve um grande aumento de hectares do território destruídos pelo garimpo.
O presidente Bolsonaro incentiva ativamente invasões de terras em territórios indígenas, mais recentemente, ele apresentou o Projeto de Lei 2633, conhecido como o “PL da grilagem”. Se aprovado, o projeto permitiria o roubo em grande escala de terras dos povos indígenas, e consequentemente a destruição dos povos indígenas que dependem dessas terras para sobreviver. Poderia resultar na aniquilação de alguns povos indígenas isolados – os povos mais vulneráveis do planeta. Facilitaria ainda mais desmatamento e invasões, o que sempre é perigoso para os povos indígenas, e ainda mais em época de pandemia.
A diretora de pesquisas da Survival International, Fiona Watson, disse hoje: “A sobrevivência dos Yanomami como povo depende da remoção dos garimpeiros ilegais. Enquanto seus rios estão sendo poluídos com mercúrio, suas florestas estão sendo destruídas e seus filhos estão morrendo de malária, mais garimpeiros estão invadindo, aproveitando a pandemia de coronavírus. Uma catástrofe humanitária está se desenrolando.”
“Os Yanomami enfrentam 20.000 garimpeiros ilegais e um presidente determinado a acabar com os povos indígenas do país.”
“Se o governo não agir agora, poderemos testemunhar novamente o terrível cenário dos anos 80, quando 20% da população Yanomami morreu de doenças devido à falta de ação das autoridades.”
Notas aos editores:
1. A campanha #ForaGarimpoForaCovid é uma iniciativa do Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana e das seguintes organizações: Hutukara Associação Yanomami (HAY), Associação Wanasseduume Ye’kwana (SEDUUME), Associação das Mulheres Yanomami Kumirayoma (AMYK), Texoli Associação Ninam do Estado de Roraima (TANER) e Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA);
2. A campanha conta com o apoio de: Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Instituto Socioambiental (ISA), Survival International, Greenpeace Brasil, Conectas Direitos Humanos, Anistia Internacional, Rede de Cooperação Amazônica (RCA), Instituto Igarapé, Fundação Rainforest US e Fundação Rainforest Noruega;
3. Como parte da campanha, o Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com revisão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizaram um estudo sobre o impacto da mineração ilegal na Terra Indígena Yanomami;
4. O sistema de monitoramento por radar do ISA, o Sirad, detectou avanço do garimpo ilegal no território. Os resultados do Sirad mostram que, desde as primeiras análises, já foram detectados 1.925,8 hectares de floresta degradadas pelo garimpo ilegal (acumulado). Somente em março de 2020 são 114 hectares de floresta destruídos pelo garimpo;
5. A Terra Indígena Yanomami foi demarcada em 1992 após uma longa campanha internacional liderada por Davi Kopenawa Yanomami, pela Comissão Pro Yanomami (CCPY) e pela Survival. Combinado com o território Yanomami na Venezuela, forma a maior área de floresta tropical sob controle indígena em todo o mundo;
6. Estão disponíveis para entrevistas:
a. Dario Kopenawa, Hutukara Associação Yanomami;
b. Fiona Watson, Survival International – [email protected], +55 62 99425 3317;
c. Antonio Oviedo (autor da pesquisa), Instituto Socioambiental – [email protected];
d. Marcos Wesley de Oliveira, Instituto Socioambiental – [email protected].