Líderes indígenas denunciam os incêndios na região amazônica como “uma terrível praga”

27 agosto 2019

Muitas terras indígenas têm sido incendiadas por fazendeiros e grileiros há anos, mas agora os incêndios são especialmente graves. Hemokomaá, um homem Awá, mostra sua floresta depois do incêndio que atingiu sua terra em 2010. © Fiona Watson/Survival

Esta página foi criada em 2019 e talvez contenha linguagem obsoleta.

Líderes indígenas da região amazônica denunciam os incêndios devastadores como uma “praga” e um “terror” que “faz nossas crianças ficarem doentes, mata os animais, só traz coisa ruim.”

Antonio Enésio Tenharim, do povo Tenharim, afirmou: “Cuidamos dessa terra, do nosso território. Até hoje, o fogo não tinha entrado. Mas agora veio de uma vez, em vários lugares. É um pavor para o nosso povo, porque faz nossas crianças ficarem doentes, mata os animais, só traz coisa ruim."

Sonia Guajajara, liderança indígena, disse hoje: “Estamos colocando os nossos corpos e a nossa vida à serviço da preservação de nossos territórios… Os povos indígenas vêm alertando há décadas as violações que temos sofrido em todo o Brasil.”

“A ação predatória de madeireiros, mineradores, garimpeiros e latifundiários do agronegócio, que possuem um lobby poderoso no Congresso nacional com mais de 200 deputados sob sua influência; além de projetos relacionados a grandes empreendimentos, como as hidrelétricas, são ameaças que vem se aprofundando terrivelmente sob o governo anti-indígena de Jair Bolsonaro, que normaliza, incita e empodera a violência contra o meio ambiente e contra nós, povos indígenas e o nossos territórios.”

A líder indígena Sonia Guajajara disse que o presidente Bolsonaro normaliza e incita a violência contra os povos indígenas e o meio ambiente © Survival International

Um grupo de líderes indígenas do povo Huni Kuin afirmou: “A natureza está chorando e estamos chorando. Se não pararmos essa destruição agora na Mãe Natureza, os filhos de todas as gerações que virá, viverão em um mundo completamente diferente daquele que vivemos hoje. Este é o chamado da Mãe Natureza nos pedindo para apoiá-la. E estamos trabalhando no presente para que todos nós como humanidade possamos ter um futuro. Mas se não pararmos essa destruição, seremos nós os que serão extintos, queimados e o céu descerá sobre nós, o que já começou a acontecer."

Raimundo Mura, liderança indígena do povo Mura, afirmou à agência de notícias Reuters na semana passada: “Vou resistir até minha última gota de sangue…É uma praga. Você está vendo as vidas (dessas árvores) desperdiçadas ali. Todas essas árvores tinham vidas, elas todas precisavam viver, cada uma no seu lugar. Você consegue ver o dano. É o objetivo do homem branco acabar com isso.”

A COIAB, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, também publicou uma nota sobre os incêndios: “Os incêndios estão destruindo as matas que ainda restam nessas regiões, espaços vitais para a sobrevivência de nossos parentes…Há povos isolados também no Estado do Mato Grosso, muitos deles ainda não tiveram sua presença reconhecida pelo Estado brasileiro, que podem também estar em processo de fuga e violência em decorrência dos atuais altos índices de desmatamento e incêndios.”

O diretor da Survival International, Stephen Corry, disse hoje: “Esses terríveis incêndios não são acidentais. O ataque à Amazônia é facilitado pela retórica e pelas ações do presidente Bolsonaro contra os povos indígenas e o meio ambiente, em um nível que não víamos há 50 anos. A Amazônia está sendo destruídos em um ritmo extremamente acelerado. A melhor maneira de enfrentar a crise climática é lutar pelo direitos e pela proteção das terras dos povos indígenas."

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