Os povos indígenas devem estar no centro do movimento ambiental contra a crise climática
Os povos indígenas vivem em alguns dos lugares onde os impactos da crise climática são maiores e dependem, em grande parte, do meio ambiente para o seu sustento e modo de vida. Eles são mais vulneráveis às mudanças do clima do que outros, mas são as pessoas que menos contribuem para tais mudanças.
Muitos dos motores da crise climática - incluindo petróleo, gás, mineração e desmatamento - já destruíram terras indígenas. Algumas das "soluções" propostas para deter a crise climática também ameaçam as terras e as vidas dos povos indígenas. As "medidas de mitigação", como as chamadas "soluções climáticas naturais", ameaçam violar seus direitos e tornar mais fácil para governos, empresas, grandes organizações de conservação ambiental e outros roubarem, explorarem e destruírem suas terras.
Os povos indígenas devem ser os parceiros principais na luta contra a crise climática e seus direitos à terra devem ser reconhecidos. Eles são os melhores guardiões da natureza e evidências mostram que seus territórios são as melhores barreiras contra o desmatamento. Eles também possuem um conhecimento único sobre o ambiente que os cerca.
O que é a crise climática?
A crise climática se refere ao aumento da temperatura média da Terra, que é resultado das emissões de gases de efeito estufa induzidas pelo homem. São produzidos principalmente pela queima de combustíveis fósseis, mas o desmatamento também causa cerca de 10% das emissões dos gases de efeito estufa, pois as florestas absorvem e armazenam carbono, que é a substância liberada na queima desses combustíveis.
Embora seja causada pelas sociedades industrializadas, muitas das soluções propostas para aliviar e reduzir as mudanças climáticas esperam que os povos indígenas paguem o preço da destruição que "nós" estamos causando. Estas supostas soluções são decididas e impostas sem o consentimento dos povos indígenas. E não vão funcionar.
Um esquema chamado "Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação" (REDD+) já causou problemas para muitas comunidades, mas não fez nada para prevenir ou retardar a crise climática. Muitas organizações de conservação ambiental agora querem aumentar muito a quantidade de terra sob rigorosa proteção da vida animal. Isto vai afastar os habitantes originais de sua terra, mas não vai parar a degradação da biodiversidade ou as mudanças climáticas.
Contra o que estamos lutando?
Contra soluções falsas para a crise climática.
O modelo colonial de conservação ambiental
Evidências provam que os povos indígenas cuidam de seu meio ambiente e fauna selvagem melhor do que ninguém. 80% da biodiversidade da terra está em territórios indígenas e quando os povos indígenas têm os seus direitos garantidos sobre as suas terras, eles conseguem resultados de conservação ambiental iguais ou melhores a uma fração do custo das demais alternativas.
Mas os povos indígenas estão sendo despejados ilegalmente de suas terras ancestrais em nome da "conservação ambiental", para criar parques nacionais e outras "Áreas Protegidas" que supostamente atenuam as mudanças climáticas. Os povos locais são acusados de "caça furtiva", quando, na verdade, só caçam por comida. E enfrentam prisão, espancamento, tortura e morte em seus próprios territórios, enquanto a caça esportiva é encorajada aos que pagam uma taxa por isso. Eles são acusados de serem culpados pelo declínio da vida selvagem que não causaram.
Grandes ONGs de conservação ambiental, como a WWF, estão agora pressionando para dobrar as "Áreas Protegidas" do mundo para que elas cubram trinta por cento das terras e oceanos do planeta. Essas mesmas ONGs fazem parcerias com empresas madeireiras e corporações responsáveis por enormes emissões de carbono.
Esta ideia, agora chamada de "New Deal for Nature", terá consequências terríveis para o nosso meio ambiente e para os povos indígenas. Roubará as terras daqueles que as mais protegem e desviará a atenção das reais causas da destruição ambiental. Muitas áreas protegidas convidam ao turismo de massa, e muitas vezes são o lar de operações de caça, extração de madeira e mineração.
Para mais informações junte-se à nossa campanha e #DescolonizeAConservação.
Projetos de compensação de carbono
A ideia de projetos baseados na "compensação" é que corporações e governos responsáveis por uma quantidade de emissões de dióxido de carbono possam financiar projetos em outros lugares que "capturem" a mesma quantidade de carbono. Isto permite que os verdadeiros poluidores "limpem" a sua imagem, sem de fato reduzirem as suas emissões.
Há duas formas fundamentais de fazer isso. Ambas são ineficazes e perigosas para os povos indígenas. E também desviam o dinheiro dos esforços para reduzir as emissões de combustíveis fósseis.
Os projetos REDD+ que supostamente impedem as florestas de serem desmatadas, geram "créditos" de carbono que as corporações e os governos podem comprar para "compensar" suas emissões de carbono. Os povos indígenas têm expressado repetidamente preocupações sobre o REDD. Isso coloca um preço em seus territórios e florestas que provavelmente resultará em ainda mais apropriação de terra. Uma grande proporção das florestas do mundo em esquemas de REDD são territórios de povos indígenas. Estes projetos minam e prejudicam o modo de vida destes povos.
Outra forma de "capturar" quantidades significativas de carbono são as "soluções climáticas naturais", como o plantio de mais árvores. Muitos projetos compensatórios, contudo, semeiam árvores de crescimento rápido como eucaliptos e acácias, para ganhar dinheiro. Isso pode aumentar a emissão de carbono ao invés de reduzi-la: a vegetação existente tem que ser desmatada e as novas plantações são mais sujeitas a incêndios. A maioria dessas árvores são colhidas em poucos anos para produzir insumos como papel e carvão vegetal, que rapidamente devolvem todo o carbono capturado de volta à atmosfera. Muitas dessas plantações precisariam crescer por décadas antes de começarem a absorver uma quantidade considerável de carbono. As plantações de árvores em grande escala destroem a biodiversidade e as terras dos povos indígenas.
Por que estamos lutando?
Precisamos descolonizar o movimento ambiental e dar espaço às experiências, vozes e opiniões dos povos mais marginalizados e vulneráveis do mundo. Há gerações os povos indígenas vivem e administram os lugares mais biodiversificados da terra.
A diversidade humana deve estar no centro da ação climática. Temos de parar com a apropriação de terras em nome da conservação ambiental ou das mudanças climáticas.
É uma questão de urgência. Pelos povos indígenas, pela natureza, por toda a humanidade.
Está na hora de ouvir-los. Confira abaixo vídeos da voz dos povos indígenas:
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