Um ano depois: WWF não age contra o abuso dos 'Pigmeus'

10 abril 2015

Os ‘Pigmeus’ Baka sofreram perseguições, espancamentos e tortura de esquadrões ante-invasores apoiados e financiados pelo WWF. © Freddie Weyman/Survival

Esta página foi criada em 2015 e talvez contenha linguagem obsoleta.

O gigante da conservação Fundo Mundial para a Natureza (WWF) fracassou em tomar medidas contra o abuso dos “Pigmeus” Baka e seus vizinhos no sudeste de Camarões, perpetrado pelos esquadrões ante-invasores, exatamente um ano depois de receber relatos de perseguição, espancamentos e tortura, e treze anos depois de ter sido informado pela primeira vez sobre esse tipo de abuso.

Esses esquadrões ante-invasores são formados por guardas de reservas florestais – e algumas vezes por soldados e policiais – que são financiados e auxiliados pelo WWF e que não poderiam seguir adiante sem o seu apoio crucial.

Aproximadamente 9.000 pessoas escreveram ao WWF pedindo que tomasse medidas para garantir que os seus fundos não fossem usados de modo a violar os direitos dos Baka e de seus vizinhos. Ano passado, aldeões pediram ao WWF para suspender o seu financiamento.

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O WWF inicialmente reagiu com irritação às cartas que relatavam os abusos enviadas pela Survival International, o movimento global pelos direitos dos povos indígenas, denunciando a campanha como “absurda”, “denuncista”, e “interesseira”. Mais recentemente, o WWF admitiu: “estamos cientes de que o prejuízo geral sofrido pelos Baka também prevalece nas suas relações com guardas florestais, policiais e cortes de justiça”.

O WWF declarou que iria esperar os resultados de uma investigação conduzida pela Comissão dos Direitos Humanos de Camarões sobre esse abuso. Mais de cinco meses após a queixa ter sido apresentada pela primeira vez junto à comissão, entretanto, a investigação ainda não foi iniciada. A Comissão declarou que somente pretende visitar algumas aldeias e somente publicará as suas descobertas ao final do ano. A Survival, assim como inúmeros Baka, exortou o WWF a tomar medidas agora para garantir que não esteja financiando abusos neste meio tempo.

A violenta perseguição nas mãos de esquadrões ante-invasores é apenas um aspecto do abuso sistemático de direitos humanos que os Baka estão sofrendo. O WWF se comprometeu com uma série de princípios relativos aos povos indígenas para evitar esse tipo de abuso, mas os Baka reclamam que eles não estão aplicando nenhum desses princípios ao seu trabalho em Camarões.

Por exemplo, o WWF se comprometeu a somente apoiar a criação de “áreas protegidas”, ou restrições à caça e coleta de subsistência, se os Baka dessem o seu consentimento prévio, livre e informado.

Os Baka temem entrar na sua floresta que foi transformada em 'área protegida'. © Selcen Kucukustel/Atlas

Os Baka não consentiram, no entanto, com a criação de “áreas protegidas” em suas terras nem com as leis que frequentemente os criminalizam como “invasores” porque eles caçam para obter os seus alimentos. Eles enfrentam perseguições, espancamento e tortura, e muitos relatam que seus amigos e parentes morreram em decorrência dos espancamentos.

Os direitos dos povos indígenas ao redor do mundo estão sendo violados em nome da “conservação” – muito embora eles sejam melhores do que quaisquer outros povos em cuidar do seu meio ambiente. A Survival está lutando contra esses abusos com a sua campanha "Parques precisam de Povos".

O Diretor da Survival, Stephen Cory, declarou hoje: “Até agora a investigação da comissão não chegou a lugar nenhum, e passarão vários meses até que ela visite algumas vilas. O WWF precisa agir agora, antes que as vidas de outras pessoas sejam arruinadas ou perdidas. Também é hora do WWF honrar os seus compromissos com os povos indígenas, como os Baka vêm pedindo que ele faça. Se o WWF estivesse lidando com essa crise da maneira correta, iria se manter fiel aos seus próprios princípios e parar de financiar os guardas florestais.”

Notas aos editores:

- Leia a última carta da Survival ao Diretor Geral do WWF
- “Pigmeu” é uma designação abrangente comumente usada para se referir aos povos caçadores-coletores da bacia do Congo e de outras localidades na África Central. A palavra, considerada pejorativa, é evitada por alguns povos indígenas, mas usada por outros como um modo conveniente e facilmente reconhecível de se descreverem. Leia mais.

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