Brasil: homens armados ameaçam assassinar líder xamã da Amazônia
30 julho 2014
Esta página foi criada em 2014 e talvez contenha linguagem obsoleta.
Davi Kopenawa, xamã e porta-voz, reconhecido internacionalmente, da tribo Yanomami na floresta Amazônica brasileira, pediu proteção policial devido a uma série de ameaças de mortes feitas por homens armados, supostamente contratados por garimpeiros que trabalham ilegalmente na terra Yanomami.
Em junho de 2014 homens armados em motos invadiram o escritório do Instituto Socioambiental, que trabalha em estreita colaboração com os Yanomami, perguntando por Davi. Os homens ameaçaram a equipe de funcionários do ISA com armas e roubaram computadores e outros equipamentos. Após o assalto, um dos homens foi preso e relatou ter sido contratado por garimpeiros.
Em maio, a Hutukara Associação Yanomami – presidida por Davi – recebeu uma mensagem dos garimpeiros de que Davi não estaria vivo até o fim deste ano.
Davi disse: “Eles querem acabar comigo… Não faço como os brancos que vão atrás de uma pessoa para acabar com ela. Não atrapalho o trabalho deles, mas eles estão atrapalhando o trabalho nosso e nossa luta. Vou continuar lutando e trabalhando pelo meu povo. Porque esse é o meu trabalho. Defender o povo e a terra yanomami.”
Desde o ataque, um clima de medo tem rondado os escritórios do ISA e da Hutukara, como homens em motos intimidando os funcionários e perguntando sempre por Davi.
Garimpeiros ilegais trabalhando na terra Yanomami, poluindo o ambiente que os Yanomami dependem para sua sobrevivência.
Em colaboração com a Hutukara, o governo do Brasil lançou uma grande operação para expulsar centenas de garimpeiros ilegais e destruir os maquinários do garimpo em fevereiro de 2014.
Davi, que foi chamado de “Dalai Lama da floresta”, tem estado à frente da luta para proteção da terra Yanomami por mais de 30 anos. Survival International, o movimento global para os direitos dos povos indígenas, apoiou a luta bem sucedida dos Yanomami pela demarcação do território Yanomami, após a invasão de milhares de garimpeiros ilegais nos anos de 1980 que dizimou a tribo.
Davi viajou para o exterior em várias ocasiões para aumentar a conscientização sobre a necessidade urgente de proteger a floresta Amazônica da destruição. Ele falou na ONU e recebeu o prêmio Global 500, entre outros, por sua contribuição na luta pela preservação ambiental.
O diretor da Survival Stephen Corry disse hoje: “As leis do Estado não significam nada na fronteira da Amazônia, que é tão selvagem e violenta como o oeste americano costumava ser. Qualquer pessoa que se coloque no caminho dessa colonização agressiva corre o risco de ser morto a sangue frio. Não são falsas ameaças – ativistas indígenas são frequentemente assassinados por resistirem a destruição de suas terras. A vida de Davi Kopenawa está em perigo. Aqueles por trás das ameaças e deste último ataque devem ser levados à justiça – as autoridades precisam agir logo para evitar o assassinado de mais um homem inocente”.
Nota aos editores:
- O CIMI divulgou em julho de 2014 que mais de 600 indígenas foram assassinados no Brasil nos últimos 11 anos, e o Global Witness divulgou que aproximadamente metade de todos os assassinatos de defensores de causas ambientais registados em 36 países entre 2002-2013 ocorreu no Brasil.
- Baixe a declaração da Hutukara
- Entre em contato com a Survival para fotos e vídeos de Davi Kopenawa Yanomami, que visitou o escritório da Survival em São Francisco em abril de 2014.
- Davi falará sobre seu novo livro “A Queda do Ceu” na Festa de Literatura Internacional de Paraty nesta sexta-feira, e em Londres em Setembro de 2014. Entre em contato para entrevistas em Londres.