100 anos depois - o mistério dos escravos do ciclo da borracha continua

1 agosto 2011

Omarino e Ricudo, dois escravos Witoto trazidos para a Grã-Bretanha em 1911. © Cambridge University MAA

Esta página foi criada em 2012 e talvez contenha linguagem obsoleta.

Uma índia Amazônica lançou um apelo público para descobrir o destino de dois índios escravos trazidos para a Grã-Bretanha há um século atrás.

Exatamente 100 anos após o jornal ‘Daily News’ ter apresentado seus antepassados Omarino e Ricudo pela primeira vez ao público britânico, Fany Kuiru, uma índia Witoto da Colômbia, fez um apelo ao mundo para ‘ajudar a descobrir o destino de nossos irmãos indígenas … para que os espíritos de nossos antepassados possam descansar em paz.’

Os índios foram ‘presenteados’ ao Cônsul Britânico Roger Casement em sua terra natal, Putumayo, no sul da Colômbia em 1910. Omarino foi trocado por um par de calças e uma camisa; Ricudo foi ganho em um jogo de cartas.

Casement, que tinha sido enviado pelo governo britânico para investigar as atrocidades na Amazônia durante o ciclo da borracha, trouxe os dois para o Reino Unido para divulgar os horrores que tinha descoberto.

A grande demanda pela borracha amazônica teve o pontapé inicial quando a empresa americana Goodyear descobriu o processo de vulcanização – que deixa a borracha dura o suficiente para ser usada na fabricação de pneus de carro. A descoberta deu origem à primeira produção em massa de carros pela líder do setor, a Ford.

Em apenas 12 anos, Casement estimou que 30.000 indígenas foram escravizados, torturados e assassinados para suprir a crescente demanda de borracha para a Europa e os Estados Unidos.

‘Nós enviam longe, muito longe na floresta para pegar borracha, e se nós não conseguimos, ou não fazemos rápido o suficiente, levamos tiro’, disse Omarino ao Daily News.

Muitas das tribos de índios isolados hoje são descendentes dos sobreviventes das atrocidades do ciclo da borracha, que fugiram nas cabeceiras do rio para escapar de assassinatos, tortura e epidemias que dizimaram a população indígena.

Depois de receber as fotografias de seus antepassados, Fany disse à Survival: ‘Cada nação fez a sua parte para exterminar os povos indígenas: Colômbia os negligenciou, Peru foi mentor e cúmplice do holocausto, Inglaterra o financiou, e o Brasil tirou os índios de suas raízes para trabalhar nas plantações de borracha.’

Não se sabe o que aconteceu com os dois escravos, cujas palavras de despedida para o Daily News foram: ‘Londres é maravilhosa, mas o grande rio e a floresta, onde os pássaros voam, é muito mais bonito. Um dia vamos voltar.’ Não se sabe se eles conseguiram voltar para casa.

Stephen Corry, diretor da Survival International, disse hoje, ‘O ciclo da borracha pode parecer uma história remota, mas seu efeito ainda está conosco. Quando o Ocidente começou esse casamento com o automóvel, as cartas de amor foram escritas com sangue indígena. Isso provocou um crime grave contra a humanidade que foi perpetrado por uma empresa britânica, na área dos Witoto. O paralelo não deve ser exagerado, mas hoje ainda existem empresas britânicas, como a Vedanta Resources, planejando o roubo de terras tribais, desta vez na Índia. É hora de pôr um fim a estes crimes e começar a tratar os povos indígenas como seres humanos.’

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