WWF é exposto no congresso dos EUA por envolvimento em abusos de direitos humanos na África e Ásia

28 outubro 2021

O deputado Jared Huffman presidiu a audiência Protegendo os Direitos Humanos na Conservação Ambiental Internacional. Ele criticou fortemente o fracasso do WWF em assumir a responsabilidade pelos abusos. © House Natural Resources Committee Democrats

- Presidente do comitê do congresso afirmou estar “frustrado, exasperado, incrédulo com o fracasso do WWF em assumir a responsabilidade” pelos abusos dos direitos humanos;
- O professor John Knox destacou os “impactos contínuos do colonialismo na conservação ambiental”;
- Ele também acusa o WWF de “chocante fraude” e avisa que “o WWF não mudará seu comportamento a menos que seja forçado a fazê-lo”

Em uma audiência sem precedentes do Comitê de Recursos Naturais da Câmara dos Estados Unidos, representantes de ambos partidos e especialistas independentes mancharam a reputação do WWF e denunciaram o modelo colonial de conservação ambiental que tem causado violações de direitos humanos.

A organização foi alvo de ataques sem precedentes por seu envolvimento em abusos de direitos humanos e pela recusa em assumir a responsabilidade por eles.

A audiência foi motivada por denúncias do site de notícias Buzzfeed e muitas outras investigações, incluindo testemunhos de povos indígenas coletados pela Survival International ao longo de muitos anos, que revelaram o envolvimento do WWF em abusos dos direitos humanos, especialmente na África e na Ásia.

Dezenas de indígenas e moradores locais foram estuprados, assassinados e torturados por guardas florestais financiados pelo WWF, que sabe dos abusos há décadas, mas pouco fez para acabar com essa violência. Os abusos são uma consequência direta do modelo colonial de conservação ambiental que prevê a expulsão de comunidades indígenas e locais quando suas terras são roubadas para a criação de áreas de preservação. Outras organizações também foram implicadas em abusos semelhantes, incluindo a Wildlife Conservation Society e a African Parks.

Atowe, líder indígena do povo Baka, conta os abusos que sofreu nas mãos de guardas florestais financiados pelo WWF no Parque Nacional de Lobeke (Camarões).

O professor John Knox, que liderou uma análise encomendada pelo WWF sobre as violações dos direitos humanos em projetos da organização, disse na audiência: “Estou muito desapontado com o fracasso do WWF em romper com seu passado … os líderes do WWF ainda estão em um estado de negação sobre o papel da organização na conservação ambiental e nos abusos de direitos humanos.”

Ele pediu que a organização se desculpasse [por seu envolvimento em abusos de direitos humanos ocorridos no passado] e assumisse a responsabilidade [por suas falhas]. Ele ainda criticou o WWF por enganar o comitê: “A declaração do WWF a este comitê tira do contexto citações do relatório e, portanto, dá uma falsa impressão das conclusões. É francamente chocante…”

“Essas alegações também destacaram os impactos contínuos do colonialismo na conservação: A velha maneira de fazer a conservação ambiental, ocidentais entrando em um país, estabelecendo um parque nacional com fronteiras rígidas e expulsando da área seus habitantes, ainda hoje está causando conflitos.”

O senhor Mobutu Nakulire Munganga, um homem Batwa do Parque Nacional Kahuzi Biega, República Democrática do Congo, que foi baleado por um guarda do parque em 2017. Seu filho foi baleado e morto no mesmo ataque. Eles estavam colhendo plantas medicinais. A Wildlife Conservation Society (WCS) apoiou o parque. © Survival

O deputado Alan Lowenthal (Partido Democrata) disse: “Estou absolutamente chocado com as violações de direitos humanos e o tratamento dado as comunidades locais e indígenas relatadas aqui … É devastador ouvir” que os EUA contribuíram financeiramente para essas “atrocidades verdadeiramente hediondas”.

O Presidente do Comitê, deputado Jared Huffman (Partido Democrata) condenou Ginette Hemley, vice-presidente da Conservação da Vida Selvagem do WWF, que representou a organização na audiência depois de seu presidente e CEO nos EUA, Carter Roberts, ter se recusado a testemunhar. Huffman também criticou o fracasso do WWF em assumir a responsabilidade pelos abusos que financiaram: “… O financiamento internacional da conservação ambiental está potencialmente em risco porque muitas pessoas estão frustradas, exasperadas e incrédulas sobre o fracasso do WWF em assumir sua responsabilidade.”

Ele disse: “Desde o início, o WWF tentou ao máximo se distanciar das acusações” … e se comportou “como se fosse apenas um problema para a imagem do WWF”.

O deputado Cliff Bentz (Partido Republicano) também criticou a organização: “O WWF tem sido irresponsável – seu testemunho é constrangedor. Eles precisam dar um passo à frente e admitir que são os culpados … A palavra colonialismo vem à mente.”

A coordenadora da campanha da Survival pela descolonização da conservação ambiental, Fiore Longo, disse hoje: “Este escândalo representa a demolição total do pouco que restou da reputação internacional do WWF. Repetidamente, seu instinto de encobrir, evitar a culpa e fingir que estão mudando enquanto continuam fazendo as coisas como sempre fizeram, foi exposto para todos verem.”

A diretora da Survival, Caroline Pearce, disse hoje: “Como disse John Knox, o WWF não é único em como se comporta: esse tipo de abuso está profundamente enraizado no modelo colonial de conservação ambiental, que atua em conflito direto com os direitos humanos e, particularmente, os direitos indígenas. Por décadas, não foi apenas ignorado, mas apoiado por grandes organizações de conservação, que angariam fundos governamentais e corporativos enquanto fecham os olhos para as atrocidades contra os indígenas e outras comunidades locais. O roubo de vastas áreas de terras indígenas em nome da conservação da natureza é, como disse o deputado Bentz, um colonialismo moderno que está sendo finalmente e implacavelmente exposto.”

“Isso deve ser um alerta, não apenas para celebridades que ainda apoiam o WWF, como Leonardo DiCaprio e Príncipe William, mas também para patrocinadores filantrópicos e corporativos que investem dinheiro nesse modelo de conservação ambiental para supostamente “proteger” 30% do planeta: essas organizações e seus modelo de conservação são tóxicos. Com a COP26 prestes a começar, um verdadeiro caminho para garantir a sustentabilidade ambiental e a biodiversidade requer uma abordagem baseada em direitos – e, em particular, no reconhecimento dos direitos territoriais dos povos indígenas – que não passa pelas ONGs de conservação ambiental que tem o abuso como característica intrínseca.”

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