Jornada extraordinária: indígenas isoladas retornam à floresta Amazônica
6 setembro 2016
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Duas indígenas isoladas da Amazônia maranhense completaram a jornada extraordinária de volta a sua floresta, após terem sido levadas de helicóptero à São Luís, à beira da morte.
Jakarewyj e Amakaria, indígenas isoladas Awá, nômades e caçadoras-coletoras, foram forçadas a entrar em contato com Awá já contatados, por estarem cercadas por madeireiros e terem contraído gripe e tuberculose, às quais elas não tinham resistência.
As duas irmãs e o filho de Jakarewyj, Irahoa, viviam em fuga há anos, sendo forçados a deixar sua terra e a se esconder dos madeireiros cujas motoserras “gritantes” os apavoravam. “Tínhamos medo deles. Tivemos que escapar,” Irahoa disse à Survival. Os outros membros de seu grupo foram exterminados.
Os aliados dos Awá no país, e os apoiadores da Survival ao redor do mundo exigiram que medidas fossem tomadas e o governo enviou um time de especialistas médicos para intervir. Jakarewyj e Amakaria foram resgatadas por helicóptero e levadas, com emergência, à São Luís, onde elas eventualmente se recuperaram.
Agora, ambas as mulheres decidiram retornar a suas vidas isoladas na floresta, apesar da ameaça contínua de madeireiros. Os Awá contatados afirmaram que as irmãs não gostaram dos alimentos ou dos medicamentos com os quais elas não estavam acostumadas, nem do calor da aldeia, e que elas sempre falavam com carinho da sua floresta.
Acredita-se que elas tenham coberto seus rastros após retornar à floresta para que não fossem seguidas.
Rosana Diniz, do Conselho Indigenista Missionário disse: “Devemos respeitar a escolha delas em voltarem para a floresta. É o desejo delas. As duas senhoras estão vivendo em um lar que, embora perigoso, é conhecido e amado por elas.”
Os indígenas isolados são os povos mais vulneráveis do planeta. Populações inteiras estão sendo dizimadas pela violência genocida de estranhos que roubam suas terras e recursos, e por doenças como a gripe e o sarampo, às quais não têm resistência. No entanto, onde seus direitos são respeitados, elas continuam a prosperar.
Muitos Awá contatados disseram que preferiam suas vidas antes do contato. Wamaxua, um Awá recém-contatado, disse: “Quando eu morava na floresta, eu tinha uma vida boa. Agora, se eu encontro um dos Awá isolados na floresta, eu direi: não saia! Fique na floresta… Não há nada no lado de fora para vocês.”
Apesar disso, alguns forasteiros, como os antropólogos estadunidenses Kim Hill e Robert Walker, continuam a encorajar expedições de “contato controlado” para contatar forçadamente povos indígenas e integrá-los à sociedade nacional.
No entanto, outros interpretam a decisão dessas mulheres como um indicador claro de que muitos não só preferem a vida na floresta como era antes do contato, mas também rejeitam muitos dos chamados benefícios do “progresso” e “civilização.”
O diretor da Survival, Stephen Corry, disse: “Estamos contentes com a notícia de que Jakarewyj e Amakaria se recuperaram e puderam tomar a decisão de como elas desejam viver. Iniciar o contato deve vir da livre escolha dos próprios indígenas isolados. Aqueles que entram em territórios de povos indígenas isoladas os negam dessa chance. A jornada das irmãs e sua determinação não deixa dúvida: os indígenas isolados estão lutando incansavelmente para viverem em suas terras, e cabe aos governos e à toda a humanidade garantir que elas possam fazê-lo.”
Nota: Informações do Conselho Indigenista Missionário (CIMI)