Trabalho do fotógrafo Jimmy Nelson atacado antes da estréia em Bruxelas
28 outubro 2014
Esta página foi criada em 2014 e talvez contenha linguagem obsoleta.
O controverso trabalho do fotógrafo Jimmy Nelson estreia na Young Gallery, Bruxelas, no dia 7 de novembro, em meio a protestos de povos indígenas ao redor do mundo e de organizações como a Survival International, o movimento global pelos direitos dos povos indígenas, por apresentar uma imagem falsa e prejudicial desses povos.
Nixiwaka Yawanawá, do Acre, protestou recentemente diante da exposição de Nelson em Londres. “Como indígena”, ele declarou, “sinto-me ofendido pelo trabalho de Nelson, ‘Antes que eles desapareçam’. É ultrajante! Nós não estamos desaparecendo e sim lutando para sobreviver. A sociedade industrializada está tentando nos destruir em nome do ‘progresso’, mas continuaremos defendendo as nossas terras e contribuindo com a proteção do planeta."
Embora Nelson afirme que o seu trabalho é um “fato etnográfico”, o Diretor da Survival, Stephen Corry, o denuncia como uma fantasia de fotógrafo que tem pouco a ver com a aparência das pessoas fotografadas agora, ou como elas foram no passado.
As fotos de garotas Waorani do Equador, por exemplo, as retratam despojadas das roupas que os Waorani contatados habitualmente usam, e vestindo folhas de “figueira” para proteger o seu recato, algo que elas jamais fizeram (gerações anteriores de mulheres Waorani usavam um simples cordão na cintura).
Os sujeitos de Nelson estariam supostamente “desaparecendo”, mas não se faz nenhuma menção à violência genocida a que eles se encontram submetidos.
Os Dani da Papua Ocidental são equivocadamente chamados de “a mais temida tribo de caçadores de cabeça da Papua”, mas não se faz nenhuma menção aos assassinatos, tortura e intimidação que eles vêm sofrendo sob a ocupação indonésia desde 1963.
O líder indígena papua Benny Wenda declarou: “O que Jimmy Nelson diz a nosso respeito não é verdade. O meu povo, o povo Dani, nunca fomos caçadores de cabeça. Essa nunca foi a nossa tradição. Os verdadeiros caçadores de cabeça são os militares indonésios que vêm assassinando o meu povo. O meu povo ainda é forte e nós lutamos pela nossa liberdade. Não estamos “desaparecendo”, estamos sendo assassinados pelos brutais soldados indonésios. Esta é a verdade.”
O trabalho de Nelson também recebeu críticas ferozes de povos indígenas da América do Norte e Nova Zelândia. Um blogueiro maori escreveu: “O povo maori não é parte de uma raça em processo de extinção e não precisamos ser retratados desse modo por um livro”, e a índia Cowlitz Elissa Washuta escreveu na revista Salon: “A missão de Nelson está amparada numa suposição aterradora: de que esses povos indígenas estão à beira da destruição. Ele está completamente enganado”.
Davi Kopenawa, porta-voz da tribo Yanomami no Brasil e conhecido como o “Dalai Lama da Floresta”, disse em sua visita recente a Londres: “Vi as fotos e não gostei. Esse homem só quer forçar as suas próprias ideias nas fotos, publicá-las em livros e mostrá-las a todo mundo para que as pessoas pensem que ele é um grande fotógrafo. Assim como (Napoleon) Chagnon, ele faz o que quiser com os povos indígenas. Não é verdade que os povos indígenas vão se extinguir. Existiremos por muito tempo, lutando pela nossa terra, vivendo neste mundo e continuando a criar os nossos filhos”.