Morre líder e professora Guarani

14 junho 2016

Leia Aquino falando com a Survival alguns anos antes de sua morte em 2016 © Survival

Esta página foi criada em 2016 e talvez contenha linguagem obsoleta.

É com pesar que a Survival anuncia a repentina morte de Léia Aquino, ativista, porta-voz e professora Guarani Kaiowá. Ela morreu, no hospital, vítima de um AVC em 3 de junho.

Determinada e atenciosa, Léia estava à frente da luta dos Guarani Kaiowá por direitos territoriais e testemunhou alguns dos confrontos mais violentos entre sua comunidade e os fazendeiros que ocupam sua terra, conhecida como Ñanderu Marangatu, onde diversos líderes Guarani foram mortos por fazendeiros.

Assista: Léia falando sobre os pistoleiros que constantemente ameaçam os Guarani.

Apesar de Ñanderu Marangatu ter sido formalmente reconhecido como território Guarani em 2005, fazendeiros continuam ocupando a maior parte da terra. Os Guarani só podem viver em uma fração do que é seu por direito.

Antes das reocupações, os Guarani estavam vivendo em uma pequena porção de terra, onde a desnutrição era frequente entre as crianças mais novas.

Os Guarani da comunidade de Léia se unem em um ritual de protestos em sua terra ancestral. © Egon Dionisio Heck/Survival

A Survival convidou Léia e outro líder Guarani, Marcos Veron, à Europa em 2000 para o lançamento do livro Deserdados. sobre os indígenas do Brasil.

Durante sua viagem, Léia comoveu diversos públicos, incluindo crianças, quando falando em uma escola sobre a situação desesperadora dos Guarani: “Quando eu penso no meu povo, eu penso em liberdade, porque estamos presos. Nós não somos livres, e isso é porque não temos terra.

“Quando temos terra, temos liberdade, e mais do que isso, temos felicidade. Olhando nos rostos das pessoas, só se vê tristeza e preocupação, porque eles não têm o que precisam para viver. Queremos plantar, mas não temos terra para plantar, mas essa terra é nossa, pertence a nós.”

Da mesma forma, ela se emocionou com o interesse dos jovens e disse a um grupo de crianças italianas: “Essas coisas que passam que realmente – é uma situação muito difícil e não tem como relatar tudo nosso e sabemos que vocês nos amam e gostam de ouvir a nossa situação – se interessam por tudo pelo que agente passa – para mim foi uma surpresa quando ela me disse que tinha escola mudando a vida dos índios Kaiowá e Guarani.”

Léia também era uma professora muito respeitada de crianças Guarani de Ñanderu Marangatu. Ela dava grande importância ao ensino da língua Guarani a fim de encorajar os Guarani mais jovens a se orgulharem da cultura de seu povo.

A pequena escola foi fechada pelas autoridades em 1999, em retaliação à participação de Léia em protestos pacíficos para os direitos territoriais. No entanto, ela pressionou, com sucesso, para sua reabertura e a escola subsequentemente cresceu em tamanho.

Léia foi enterrada em uma das áreas de Ñanderu Marangatu que os Guarani reocuparam no ano passado. Ela deixa seu marido – um agente de saúde comunitária – e três crianças. Muitos sentirão saudades de Léia, mas seu legado viverá.

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