Davi Kopenawa Yanomami - Biografia
Notas Biográficas
Davi nasceu por volta de 1956 no Marakana, uma comunidade Yanomami localizada no alto rio Toototopi no estado do Amazonas, no norte da floresta amazônica, perto da fronteira com a Venezuela. Uma de suas memórias de infância mais marcante foi quando sua mãe o escondeu dentro de um cesto Yanomami, quando os primeiros brancos chegaram a sua comunidade. No final da década de 1950 e durante a década de 1960, os primeiros contatos com os brancos (o Serviço de Proteção ao Índio do governo (SPI), a Comissão Brasileira Demarcadora de Limites (CBDL) e os missionários norte americanos da Missão Evangélica Novas Tribos) trouxeram doenças fatais para os Yanomami isolados nesta região remota. A comunidade de Davi foi dizimada e muitas pessoas de sua família, incluindo sua mãe, morreram durante essas epidemias que devastaram a região de 1959 a 1967. Ele trabalhou durante muitos anos como intérprete da Fundação Nacional do Índio, FUNAI, traduzindo para equipes médicas que trabalhavam nas comunidades Yanomami e ajudando a FUNAI a expulsar os invasores de suas terras. Esta experiência permitiu que Davi viajasse por muitas comunidades e interagisse com autoridades do governo e outras pessoas de fora. Em 1983, Davi começou a lutar para o reconhecimento do território Yanomami localizado nos estados de Roraima e Amazonas. Garimpeiros ilegais estavam começando a invadir a região, espalhando doenças como malária e gripe, para as quais os Yanomami não tinham resistência imunológica. Em consequência disso, 20% da população Yanomami foi dizimida entre 1986 e 1993, vítimas de doenças e de ataques violentos. A luta de Davi o levou a muitos países. A primeira vez que ele deixou o Brasil foi a convite da Survival International, que o convidou a receber o prêmio Right Livelihood ou ‘prêmio Nobel alternativo’ em seu nome, em uma cerimônia no Parlamento sueco em 1989, com o intuito de lançar uma campanha internacional pela demarcação do território Yanomami. O prêmio foi dado em reconhecimento aos esforços da Survival por lutar junto dos Yanomami e pelo sucesso em ‘conscientizar o público sobre a importância da sabedoria dos povos tradicionais para o futuro da humanidade’. Durante esta viagem, Davi falou sobre os impactos terríveis da invasão dos garimpeiros para a saúde dos Yanomami e para o meio ambiente, e alertou que os Yanomami apenas sobreviveriam se seus direitos à terra fossem reconhecidos. Em seguida, a Survival organizou a primeira viagem de Davi aos Estados Unidos em 1991, onde ele se reuniu com o Secretário Geral das Nações Unidas, Pérez de Cuéllar, membros da Comissão Inter-americana de Direitos Humanos e senadores americanos para alertar sobre o genocídio iminente dos Yanomami. Davi participou da ‘Semana da Amazônia’, um evento anual realizado para debater questões relacionadas à Amazônia e aos seus povos. O território Yanomami foi oficialmente reconhecido pelo governo do Brasil pouco antes do Rio de Janeiro sediar a primeira Cúpula da Terra das Nações Unidas, a Eco 1992. Cobrindo mais de 9,6 milhões de hectares (96.650 km2), aproximadamente o tamanho da Hungria ou do estado de Indiana nos Estados Unidos, a terra Yanomami abriga quase 38.000 indígenas e é um dos mais lugares mais biodiversos do planeta. Desde a década de 1980, Davi tem trabalhado em estreita colaboração com a CCPY (Comissão Pró-Yanomami), uma ONG brasileira que também desempenhou um papel fundamental no sucesso da campanha pela demarcação da terra Yanomami. O apoio de Davi foi decisivo para os projetos da CCPY, como o projeto de educação bilíngue, que teve como objetivo ajudar os Yanomami a defender seus direitos, criando escolas com aulas de alfabetização e matemática, além da formação de professores Yanomami. Davi também ajudou a CCPY a criar a ONG Urihi, que treinou as equipes de saúde para trabalhar com os Yanomami, e com isso, conseguiu reduzir consideravelmente as taxas de malária e de outras doenças infecciosas nas comunidades. O Instituto Socioambiental (ISA), uma das principais organizações no Brasil que trabalha com questões socioambientais, assumiu os projetos da CCPY em 2010 e trabalha em estreita colaboração em vários projetos da Hutukara. Durante a década de 1990 e início de 2000, Davi fez várias viagens ao exterior, muitas organizadas pela Survival International, para se reunir com governos e ONGs com o intuito de arrecadar fundos para projetos vitais de saúde e educação para os Yanomami, bem como para expor as contínuas ameaças de garimpeiros e dos fazendeiros contra seu povo. Em dezembro de 1992, Davi representou os povos indígenas da Amazônia na ONU em Nova York para a abertura oficial do Ano dos Povos Indígenas do Mundo. No ano seguinte, ele falou nas Nações Unidas em Genebra, onde expressou sua preocupação com os possíveis efeitos negativos das políticas desenvolvimentistas do governo em relação à terra Yanomami. Durante suas viagens, Davi se reuniu com quatro presidentes do Brasil, o rei da Noruega, o ex vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e o príncipe Charles do Reino Unido. Ele ganhou o prêmio Global 500 das Nações Unidas em reconhecimento a sua luta pela preservação da floresta Yanomami e por garantir um futuro para seu povo. Em abril de 1999, Davi foi premiado com a Ordem do Rio Branco pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em reconhecimento pelo seu trabalho em nome do povo Yanomami.
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