Esta página foi criada em 2011 e talvez contenha linguagem obsoleta.
Emergindo lentamente do isolamento
Imediatamente identificados pelo seu longo ornamento lábial, os Zo’é se encontraram com forasteiros pela primeira vez em 1982, quando missionários evangélicos fizeram contato com eles. Dizimados por doenças logo depois, sua população agora está crescendo novamente.
Um modo de vida tranquilo
Os Zo’é são um grupo pequeno e isolado que vive nas profundezas da floresta amazônica no norte do Brasil. Eles só entraram em contato recorrente com estrangeiros em 1987, quando missionários da Missão Novas Tribos construíram uma base em suas terras.
Suas terras foram oficialmente reconhecidas pelo governo, que controla o acesso a ela, para minimizar a transmissão de doenças potencialmente fatais, como a gripe e o sarampo.
Os Zo’é vivem em grandes casas de palha retangulares e abertas em todos os lados. Aqui, diversas famílias vivem juntas, dormindo em redes penduradas em vigas e cozinhando em fogueiras abertas nas laterais.
Os Zo’é apreciam as castanhas do pará, e muitas vezes constroem as suas comunidades próximas a pomares de castanheiros. Além de proporcionarem uma rica fonte de alimento, as cascas da castanha são utilizadas para fazer pulseiras, e a fibra da casca utilizada para fazer redes.
As comunidades Zo’é estão cercadas por grandes roças, onde mandioca e outros tubérculos, pimentão, banana e muitas outras frutas e vegetais são cultivados. O algodão é cultivado e usado para fazer enfeites de corpo e redes, amarrar ponta de flecha e tecer fitas para transporte de bebês.
Os Zo’é são polígamos, e tanto homens como mulheres podem ter mais de um parceiro. É bastante comum para uma mulher com várias filhas se casar com vários homens, alguns dos quais podem mais tarde se casar com uma de suas filhas.
Todo mundo é igual na sociedade Zo’é. Não há líderes, embora as opiniões dos homens particularmente articulados, conhecidos como ‘yü’, têm mais peso do que outros em questões de casamento, cultivo de antigas roças ou o estabelecimento de novas comunidades.
Os homens são caçadores extremamente qualificados. A caça normalmente é feita individualmente, mas em certas épocas do ano – como a ‘época de macaco gordo’ ou ‘época de urubu-rei’ – caças coletivas são organizadas.
Quando grandes grupos de queixadas se reúnem, os homens Zo’é caçam juntos, correndo furiosamente e atirando flechas contra as queixadas, enquanto as mulheres pegam os filhotes assustados, que são levados de volta para casa e são criados como animais de estimação ou ‘raimbé’. Os Zo’é também pescam com arpões e timbó – um veneno feito de videiras esmagadas.
Decoração do corpo e rituais
Desde muito cedo, todos os Zo’é usam o ’m’berpót’ – o ornamento labial longo feito de madeira introduzido no lábio inferior.
Os Zo’é contam como um antepassado chamado Sihié’abyr mostrou-lhes como usar o ornamento labial. Uma das cerimônias mais importantes, e um rito de passagem para as crianças, é a perfuração do lábio inferior.
Um osso afiado da perna do macaco-aranha é usado, e um pequeno ‘m’berpót’ é inserido, geralmente quando as meninas atingem sete anos de idade e os rapazes cerca de nove anos de idade. À medida que crescem, ornamentos labiais maiores são inseridos.
As mulheres usam cocares elaborados com penas do peito branco do urubu-rei, e pintam o corpo com urucum – uma tinta vermelha vibrante feita a partir de sementes de urucum esmagadas.
Rituais marcam muitos aspectos da vida Zo’é, como o nascimento e a morte, a primeira menstruação das meninas, e a primeira anta caçada por meninos adolescentes.
‘Seh’py’ é talvez a maior cerimônia coletiva, que pode ser realizada para marcar qualquer evento importante. É nomeada em função de uma bebida fermentada naturalmente e servida durante o ritual, que é feita a partir de qualquer tubérculo da estação do momento. Os homens se vestem com saias de fibras longas chamada ‘sy’pi’. Homens e mulheres dançam toda a noite em uma série de danças originais acompanhadas de canto. Ao amanhecer, os homens terminam a bebida e vomitam coletivamente.
Futuro incerto
Como muitos povos indígenas que recentemente entraram em contato com a sociedade nacional, a vida está mudando para os Zo’é. Algumas pessoas acusaram a FUNAI, a Fundação Nacional do Índio, de mantê-los em uma ‘bolha’, com poucas pessoas autorizadas a entrar no seu território, e os Zo’é desencorajados de sair.
Mas essa política tem, sem dúvida, salvado vidas, e a população Zo’é se estabilizou, e agora está saudável e crescendo.
No entanto, os Zo’é são curiosos sobre os seus vizinhos e o mundo além de suas fronteiras, e manifestaram seu desejo de aprender mais sobre o mundo exterior.
Em fevereiro de 2011, pela primeira vez, um grupo de Zo’é viajou para Brasília, a capital do Brasil, para apresentar suas reivindicações às autoridades. Estas incluem um projeto de educação, a formação de Zo’é como agentes de saúde, e um programa de proteção de terra no qual os próprios indígenas possam participar ativamente.
O desafio agora para os Zo’é é aprender sobre seus direitos e entender a sociedade brasileira para que eles possam interagir em igualdade, sem sucumbir às doenças comuns, como a gripe, para às quais eles ainda são extremamente vulneráveis.
A pressão sobre o seu território e suas riquezas naturais é crescente: castanheiros, garimpeiros e missionários periodicamente invadem suas terras, e as fronteiras de soja e pecuária estão cada vez mais próximas. Empresas de mineração também estão interessadas no território dos Zo’é.
Primeiro Contato
Os Zo’é viveram tranquilamente na floresta densa entre os rios Cuminapanema e Erepecuru desde tempos imemoriais.
Na década de 1940 e 50, caçadores de onças e outros gatos selvagens, em busca de peles de animais, perturbaram a paz da floresta pela primeira vez. Em seguida, garimpeiros e colecionadores de castanha do pará começaram a se aventurar no território.
Os Zo’é tiveram encontros com essas pessoas, mas não foram perturbados até que, em 1975, um avião de pesquisa mineral, voando sobre a floresta, avistou uma de suas comunidades. Os pesquisadores voltaram e lançaram produtos para fora do avião – e mais tarde relataram que os Zo’é pisaram nos objetos e os enterraram.
Gradualmente, a existência dos Zo’é tornou-se conhecida à comunidade missionária do Brasil. Entre 1982 e 1985, a Missão Novas Tribos realizou várias expedições no território Zo’é, fazendo breve contato com um pequeno grupo, e sobrevoaram as comunidades lançando ‘presentes’. Em 1987, a Missão Novas Tribos estabeleceu uma base e pista de pouso na borda do território.
Segundo os missionários, o primeiro contato definitivo com os Zo’é foi em 5 de novembro de 1987. Por alguns dias anteriores a esse contato, grupos de Zo’é observaram secretamente os missionários em sua base. Anos depois, um caçador Zo’é lembrou como ficou entretido com as técnicas de caça dos missionários, observando como eles não se moviam rapidamente na floresta e como um carregava uma queixada nas costas, com ‘sua cabeça solta e suas mandíbulas fazendo um som estalido’.
Finalmente, alguns Zo’é entraram para o acampamento e trocaram flechas quebradas por bens dos missionários. Gradualmente, mais Zo’é se aproximaram da base e construíram casas, atraídos pela disponibilidade de ferramentas úteis, como facões, facas, panelas e apetrechos de pesca.
A tragédia logo começou. Os Zo’é passaram a adoecer de enfermidades para as quais não tinham imunidade. Com tantos Zo’é em um mesmo lugar, a gripe e a malária se espalharam rapidamente. Como a situação deteriorou-se, os missionários contataram a Fundação Nacional do Índio que enviou equipes médicas. A epidemia devastou o grupo – cerca de um quarto da população original do Zo’é morreu entre 1982 e 1988.
Reagindo à catástrofe, a FUNAI expulsou os missionários em 1991 e iniciou um processo para tentar persuadir os Zo’é a regressar às suas antigas aldeias.
A FUNAI então construiu um avançado centro com um mini hospital para tratar os Zo’é e para evitar a necessidade de transferi-los para a cidade mais próxima para tratamento. Qualquer pessoa de fora que visita os Zo’é é cuidadosamente examinada antes que ela possa entrar no território. Como resultado, a população se estabilizou e está crescendo gradualmente. Hoje existem cerca de 250 Zo’é.
Ameaça Crescente
Os Zo’é ainda são um grupo muito vulnerável. Sua população é pequena e eles são extremamente suscetíveis a muitas doenças comuns contra as quais não tiveram tempo para desenvolver imunidade.
Até agora, seu território está relativamente livre de invasões, e em 2009 foi oficialmente ‘ratificado’ pelo governo para a sua ocupação e utilização exclusiva.
No entanto, há uma crescente pressão sobre a terra Zo’é por caçadores e garimpeiros, e por centenas de coletores de castanha que almejam a alta qualidade das árvores de castanha do pará. Missionários evangélicos também estão tentando entrar. Uma nova incursão de fora representaria um risco enorme para a saúde desse povo.
A fronteira da soja e da pecuária no sul do território Zo’é está se deslocando constantemente para o norte, e há o temor de que será difícil manter os agricultores fora deste grande território a menos que um rigoroso programa de proteção de terra seja implementado.
Os Zo’é estão curiosos e querem ver e compreender o mundo além de suas fronteiras. Em fevereiro de 2011, pela primeira vez um grupo de Zo’é viajou para Brasília para se reunir com representantes do governo.
Eles discutiram suas preocupações com as pressões sobre a floresta e deixaram claro que desejam participar ativamente de um programa para protegê-la. Eles também expressaram seu desejo de ter um programa de educação adequado às suas necessidades, e um programa para treinar os Zo’é para se tornarem agentes de saúde.
O desafio é ajudar os Zo’é a compreender e interagir também com o mundo exterior sem comprometer sua saúde ou terra.
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